Intervenção de Débora Santos, da JCP

«Tomemos nas nossas mãos<br> os destinos das nossas vidas»

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Re­a­li­zamos as co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal num mo­mento em que as con­sequên­cias do pacto de agressão as­sumem ex­pres­sões ter­rí­veis e des­troem a vida da ju­ven­tude por­tu­guesa, ao passo que atentam contra a so­be­rania do nosso País. A in­ten­si­fi­cação da luta tem sido fun­da­mental para que a ju­ven­tude tome po­sição, rei­vin­di­cando os seus di­reitos e al­can­çando vi­tó­rias.
Ao tomar cons­ci­ência da si­tu­ação po­lí­tica e re­co­nhe­cendo-se na luta e no pro­jecto co­mu­nista, na de­fesa da li­ber­dade, da de­mo­cracia, da paz e da so­be­rania dos povos, Álvaro Cu­nhal toma par­tido, en­trando no PCP e nas Ju­ven­tudes Co­mu­nistas com apenas 17 anos. O seu exemplo de re­sis­tência e luta contra o fas­cismo; a sua co­ragem, fir­meza e de­di­cação, são factos que le­va­remos à ju­ven­tude por­tu­guesa no âm­bito das co­me­mo­ra­ções.
O ideal co­mu­nista, a ri­queza do tra­balho co­lec­tivo e a ur­gência de tomar par­tido devem cor­res­ponder a um im­por­tante mo­mento na nossa vida. Álvaro Cu­nhal dizia, re­la­ti­va­mente à sua adesão ao PCP, «tornei-me co­mu­nista e ainda não acabei». E esta é uma re­a­li­dade com que todos nós, que to­mamos par­tido, nos con­fron­tamos. 
Os jo­vens co­mu­nistas que hoje par­ti­cipam em co­lec­tivos têm a di­fícil ta­refa de con­ti­nuar a or­ga­nizar a luta e en­volver ou­tros jo­vens. São mi­lhares de ca­ma­radas e amigos que dão corpo à nossa in­ter­venção, mo­bi­li­zando e or­ga­ni­zando, com cri­a­ti­vi­dade e co­ragem. Foi assim du­rante o fas­cismo, é assim hoje. Se­para-nos o tempo, as con­di­ções, as pes­soas e a vida, mas apro­xima-nos as di­fi­cul­dades, o de­sem­prego, a fome, a emi­gração, tudo o que é feito e atenta contra a li­ber­dade. Antes como hoje, somos co­mu­nistas.
Temos cons­ci­ência das nossas res­pon­sa­bi­li­dades, e é por isso que o cen­te­nário che­gará às es­colas e lo­cais de tra­balho. Di­remos à ju­ven­tude o que o Álvaro nos disse: « A ale­gria de viver e de lutar vem-nos da pro­funda con­vicção de que é justa, em­pol­gante e in­ven­cível a causa por que lu­tamos.» Pa­la­vras que as­sumem es­pe­cial re­levo no mo­mento ac­tual, de re­sis­tência e acu­mu­lação de forças, para der­rubar a po­lí­tica de di­reita. Assim, o re­forço da nossa or­ga­ni­zação é fun­da­mental. Só com mais or­ga­ni­zação po­de­remos avançar na luta. E só com mais lutas po­de­remos re­forçar a nossa or­ga­ni­zação.
A JCP tem no PCP a his­tória, a ex­pe­ri­ência, a luta, a acção, o pro­jecto e tantas ou­tras coisas que servem à trans­for­mação da so­ci­e­dade. Assim como o par­tido tem na JCP a van­guarda da luta da ju­ven­tude. Or­ga­ni­zação que co­nhece, re­flecte, en­volve, mo­bi­liza e luta com ou­tros jo­vens. A JCP tem pre­sente o con­tri­buto da re­flexão de Álvaro Cu­nhal para a dis­cussão no I Con­gresso da JCP. Álvaro dizia-nos ter plena cons­ci­ência de que a ju­ven­tude é uma força so­cial im­pres­cin­dível na luta «contra a ofen­siva re­ac­ci­o­nária, em de­fesa das con­quistas de Abril» e, por isso, co­lo­cava-nos como ta­refa pri­mor­dial ga­nhar a ju­ven­tude, per­mi­tindo for­ta­le­ci­mento e par­ti­ci­pação, avan­çando na re­so­lução dos seus pro­blemas. Este tra­balho em uni­dade, esta forma de estar, en­volver e po­ten­ciar as ca­pa­ci­dades de cada um, es­pe­ci­al­mente de jo­vens que hoje ainda não deram o passo de aderir à JCP ou ao Par­tido, mas que estão con­nosco nesta e na­quela frente de luta. Esta acção per­ma­nente de cons­trução co­lec­tiva par­tindo das ca­rac­te­rís­ticas pró­prias da ju­ven­tude. Eis mais um en­si­na­mento e con­tri­buto que Álvaro Cu­nhal nos deixou.

De­sa­fios aos jo­vens

A ofen­siva é grande, mas não tão grande como a ca­pa­ci­dade de criar, so­nhar, agir e lutar. Por isso vos de­sa­fi­amos a tomar, como vosso, o ro­mance de Ma­nuel Tiago «Cinco dias Cinco Noites». Esta obra, pas­sada no final dos anos 40, mostra-nos a ju­ven­tude que é le­vada a sair de Por­tugal em busca de uma vida me­lhor. Assim acon­teceu com a per­so­nagem «André», de 19 anos, e assim acon­tece hoje como mi­lhares de jo­vens. O de­safio que co­lo­camos aos jo­vens li­gados ao ci­nema é que li­vre­mente re­criem esta obra através da re­a­li­zação de curtas-me­tra­gens.
A arte e o pro­jecto co­mu­nista são in­se­pa­rá­veis na obra de Álvaro Cu­nhal. As suas gra­vuras e pin­turas, de re­sis­tência, arte e luta, che­garão à ju­ven­tude como prova da sua de­ter­mi­nação. Porque mesmo quando lhe ti­raram a li­ber­dade não lhe ti­raram o sen­tido, a cri­a­ti­vi­dade, a dis­ci­plina. A cer­teza de que era pos­sível mudar as con­di­ções de vida do povo. A sua obra é ina­ca­bada pois re­flecte a his­tó­rica luta que a ju­ven­tude sempre travou. 
E também a mú­sica es­tará pre­sente. Serão cri­ados novos temas a partir da sua frase «to­memos nas nossas mãos os des­tinos das nossas vidas». Que­remos pro­jectar esta ideia como apelo à ju­ven­tude. Que­remos que a mú­sica vá tão longe quanto as suas as­pi­ra­ções. Que­remos que as ruas se en­cham de sons ori­gi­nais que re­flictam a cri­a­ti­vi­dade da ju­ven­tude e a pers­pec­tiva que Álvaro nos deixou, ao dizer «arte é li­ber­dade. É ima­gi­nação, é fan­tasia, é des­co­berta e é sonho».
Sim, a arte é hu­ma­ni­dade. E a hu­ma­ni­dade do ca­ma­rada Álvaro che­gará à ju­ven­tude de ma­neiras di­fe­rentes: há ca­ma­radas que o co­nhe­ceram e com ele tra­ba­lharam; ou­tros que o pu­deram ler e ouvir; ou­tros ainda que pouco sabem a seu res­peito. Pre­ci­samos de dar a co­nhecer o «exemplo que se pro­jecta na ac­tu­a­li­dade e no fu­turo». 
O mesmo exemplo es­teve pre­sente, no dia em que o «Até amanhã ca­ma­radas» ga­nhou um novo sen­tido. Nesse dia muitos foram os jo­vens cujas en­tra­nhas se trans­for­maram em re­do­brada co­ragem. O dia em que nos des­pe­dimos com uma gran­diosa ma­ni­fes­tação e re­a­fir­mámos a vida do Par­tido e a con­fi­ança no povo. Nesse dia como hoje, temos a cer­teza de que luta vai con­ti­nuar. E que este é o único ca­minho para der­rubar esta po­lí­tica.
Serão cada vez mais os jo­vens a se­guir o exemplo de Álvaro Cu­nhal. Serão cada vez mais os jo­vens a tomar par­tido, cons­ci­entes de que o nosso pro­jecto é a ver­da­deira al­ter­na­tiva. Cons­ci­entes de que com este co­lec­tivo e o tra­balho em uni­dade se­remos ca­pazes de cum­prir Abril!



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